JOÃO BATISTA GUERRA – UM APODIENSE GOVERNADOR
João Batista Guerra nasceu na cidade
de Apodi, no dia 6 de dezembro de 1914. Era filho de Carlos Borromeu de
Brito Guerra e Maria Bezerra Guerra.
Iniciou seus estudos no grupo escolar
de Apodi. Ainda muito jovem transferiu-se para Mossoró-RN, onde fez o curso de
professor na Escola Normal daquela cidade, um dos melhores estabelecimentos de
ensino do Estado na época.
Muito inteligente e bastante dedicado nos estudos, foi aluo de destaque
durante todo o curso.
Ao receber o diploma de professor, em
1933, voltou ao Apodi, para ensinar no Grupo Escolar Ferreira Pinto, e em
seguida casar-se com a professora Francisco Lopes, também diplomada pela Escola
Normal de Mossoró. Desse casamento houve dois filhos.
Em plena juventude e com entusiasmo,
João Guerra dedica-se à política partidária. logo intrigou-se com os chefes
políticos que dentro de pouco tempo passaram a dominar a situação em Apodi,
triunfando em duas eleições seguidas. João Guerra atraiu para si a ira dos
coronéis adversários. Perseguido, foi transferido para a então vila de Vitória,
atualmente Marcelino Vieira, no alto Oeste Potiguar Ali ensinou um ano.
Retornando à sua terra, deixou o
Magistério para se dedicar ao comércio, no qual não obteve êxito. Valendo-se de
sua inteligência ingressou na advocacia, como advogado rábula. Nesta profissão
não lhe faltava clientes. Trabalhou dois anos nas atividades agrícolas
plantando algodão, feijão e milho na Chapada do Apodi. Mais por passatempo do
que por necessidades de sobrevivência desenvolveu esta atividade em Apodi.
Continuou participando da
agitadíssima campanha política que se alastrava por todo o Estado do Rio Grande
do Norte, quando já se tornavam frequentes as arbitrariedades e crimes de
morte, com a cobertura do próprio governo, a cujo partido o João estava
ligado.
Considerado um bom orador, João
Guerra participava dos comínios e reuniões ao lado do coronel Benedito
Saldanha. Homem perigoso e violento, vindo de outra região para comandar o
partido do governo em Apodi e noutros municípios desta zona. Em Apodi o tal
coronel deixou marcas profundas de sua violência.
Em 1935, foi deflagrada a Intentona Comunista no Rio Grande do Norte.
Abafado o movimento, muitos políticos foram presos. João Guerra foi denunciado
como subversivo, refugiando-se para não ser preso.
Graças a interferência do seu sogro, Antonio Lopes Filho, homem de
prestígio e correligionário do governador eleito, Dr. Rafael Fernandes, João
Guerra conseguiu voltar ao Apodi, sem coação.
Não vislumbrando nenhuma perspectiva
de futuro para ele, no Apodi e no Rio Grande do Norte, marcado pelos
adversários, e observado a pequenez do ambiente para um jovem inteligente,
cheio de ideias e esperança, resolver deixar o Apodi.
Dentre os seus projetos para mudar o rumo de sua vida, aceita o convite
de um norte-rio-grandense ilustre que assumia importante cargo no Território
Federal do Acre. No ano de 1942, viaja com a família para assumir o cargo de
diretor de um grupo escolar na cidade de Cruzeiro do Sul, Acre. A mulher não se
deu no ambiente e dois anos depois estava de volta ao Apodi.
Com a mudança de governo, no Território do Acre, João Guerra é obrigado
a deixar o Cruzeiro do Sul, indo para Manaus, trabalhar no Serviço de
Profilaxia da Amazônia durante algum tempo. Ai conheceu Ivanyr G. Farias, com
quem manteve um relacionamento de compreensão até o fim de sua vida. Dessa
união houve cinco filhos, todos residindo atualmente em Manaus.
Daí em diante esteve ligado ao
Território de Rio Branco, depois Roraima. Ali assumiu diversos cargos no
serviço público federal. Através de cursos conseguiu os títulos de Técnico e
Bacharel em Administração, o que lhe permitiu importantes funções.
Dentre os inúmeros cargos que ocupou
na Amazônia, destacamos as seguintes:
1 – Diretor de um grupo escolar na
cidade de Cruzeiro do Sul, Acre.
2 – Funcionário do Serviço de
Profilaxia da Amazônia.
3 – Secretário do Serviço de
Administração Geral de Roraima.
4 – Diretor titular do Serviço de
Administração de Roraima.
5 – Diretor do Curso de
Aperfeiçoamento dos Serviços Territoriais de Roraima e professor do mesmo
Curso.
6 – Secretário Geral do Território de
Roraima.
7 – Governador, em substituição do
Território de Roraima.
8 – Representante dó Território de
Roraima em Manaus.
9 – Chefe da Secção Pessoal de
Administração.
10 – Diretor de Segurança e Guarda do
Território de Roraima.
11 – Professor de Pedagogia e
Psicologia.
12 – Assessor Técnico do
Governador.
13 – Assessor Técnico da Câmara
Municipal de Manaus ao VII Congresso Nacional dos Municípios.
Indo residir em Manaus, ao encerrar
suas atividades em Roraima, e juntamente com outros profissionais, instala um
escritório de prestação de serviços – SERVAM , abrangendo os ramos de Direito,
Engenharia, Economia, Administração, Contabilidade e outros.
Uma das características de João
Guerra, muito admirada, era sua popularidade e sua maneira cativante de fazer
amizade. Aliada ao seu espírito de aventura, estava sua coragem para enfrentar
desafios. A prova maior disso foi a sua trepidante trajetória pela região
amazônica, enfrentando sérios obstáculos, inclusive em lutas políticas.
Suas atividades literárias
limitaram-se a artigos, crônicas e reportagens para jornais. Escreveu algumas
teses sobre assuntos administrativos, sociais e econômicos da região.
João Batista Guerra foi o apodiense
que, pelas suas qualidades chegou ao importante cargo de governador, no
Território de Roraima, em 1951. Sem dúvida, um exemplo admirável de talento e
capacidade, para atingir altas posições na vida pública, sem ambições, pois, o
exemplo marcante de sua personalidade era a modéstia.
A notícia de sua morte, quando ainda não tinha completado 60 anos, a
recebi com espanto e certo cepticismo. Isto pelas circunstâncias em que sua
vida se extinguiu, fulminada por um colapso, contra o qual não teve chance de
lutar, e quando muito ainda teria a realizar. Enfim, um fato para mim
inesperado. Curvou-se diante do terrível imprevisto, o homem que eu conheci na
intimidade do nosso lar e da nossa família, na plenitude de sua vigorosa
juventude esbanjando saúde.
Em Apodi, sua terra natal, foi o
professor iniciante, o comerciante, o político afoito, agricultor e advogado.
Lutando, porém sem esperança de conquistas compatíveis com o seu preparo
intelectual e com os seus ideais.
Depois, a grande aventura e o sonho com os tesouros minerais escondidos
na vastidão das florestas sem fim, da natureza generosa e cruel ao mesmo tempo.
Uma ameaça constante ao home, exposto a riscos e perigos que podem comprometer
a sua saúde.
Com dificuldades João Guerra,
enfrentou batalhas e conquistou vitórias que o consagraram como um verdadeiro
herói, nas terras distantes que ele tanto admirava, amou e constituiu família.
Morreu quando não esperávamos, no dia 9 de setembro de 1974.
FONTE: "MISTURAS DE FRASES E PALAVRAS" - VÁLTER DE BRITO GUERRA(1998), CI8A
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